DORMIR MAL ENGORDA?
Pode apostar que sim!
Por Dr. Edson Monteiro
Parece incrível que nos dias atuais
ainda haja grande desconhecimento sobre a relação entre o sono e a obesidade, incluindo-se
muitos médicos. Muitos acreditam que roncar e ter apnéia (essa apnéia significa
parada da respiração durante o sono) seja restrito aos obesos, o que é absolutamente
falso. Há quem defenda inclusive que com o aumento do peso há estreitamento das
vias aéreas, que a garganta fica mais estreita o que gera o ressonar que
conhecemos como ronco, e que a barriga faz dificultar a respiração e é a
principal causa da apnéia. Tudo isso realmente faz piorar a respiração, mas são
fatores que se somam, ou seja, são coisas coadjuvantes no problema e não
determinantes, apenas ajudam a piorar.
Pensem sobre a indagação que se segue:
“A PESSOA RONCA PORQUE ESTÁ GORDA OU ESTÁ GORDA PORQUE RONCA?”
Soa estranha essa pergunta? Pois o que
parece lógico a muitos é o fato de que as pessoas roncam simplesmente porque
estão obesas, e têm apnéia porque estão gordas, e até muitos médicos acreditam
nisso... isso é falso, não tem respaldo na realidade. Tem muitos magros que
roncam bastante e têm apnéia grave, como há gordos sem apnéia e que roncam
pouco, ou não roncam.
A obesidade já está tão prevalente em
tantos países que já é considerada uma pandemia, que significa dizer ser uma
epidemia global, e que está destruindo a saúde de milhões de pessoas. É bem
conhecida a relação “consumo de
alimentos X gasto de energia”, que se engorda quando há o desequilíbrio nessa
equação, que muitas calorias ingeridas na alimentação e pouco gasto com
trabalho físico corporal faz aumentar o peso. Há quem acredite que obesidade se
resume a comer errado e sedentarismo, o que pode ser apenas parte do problema,
pois muitos casos estão mais associados a alterações na eficiência do sono do
que aos desvios dos hábitos alimentares. Isso significa o seguinte: Apnéia leva
a obesidade, e muitos engordam porque estão com apnéia.
Alterações no sono podem levar a queda
de diversos hormônios essenciais ao metabolismo, que quando alterados levam à
obesidade, diabetes, hipotireoidismo, doenças cardiovasculares e alterações dos
hormônios sexuais com consequente diminuição de libido e até impotência sexual.
Durante a insônia e especialmente na apnéia noturna, há aumento do hormônio
conhecido como “grelina” que aumenta
a fome, o consumo alimentar e diminui a queima de gordura, o que gera
obesidade.
A Síndrome da Apnéia-Hipopnéia
Obstrutiva do Sono (SAHOS) é uma
doença crônica, evolutiva, com graves repercussões para a saúde, causada por
flacidez da musculatura da faringe e do palato (o que chamamos comumente de
garganta e “céu da boca”), alterações anatômicas da face e dos tecidos moles
que circundam a faringe, além de desvios de septo, adenóide e aumento das
amígdalas. Essas alterações geram ronco e apnéia, distúrbios do sono que
estão relacionados com a passagem do ar pelas vias aéreas do sistema
respiratório. Durante o sono, as musculaturas do pescoço e da faringe relaxam
causando um estreitamento do espaço aéreo da faringe e o ar passa com maior
dificuldade, gera vibração de tecidos moles como palato mole (céu da boca),
úvula (campainha), língua e outras estruturas. Este é o ronco! A apnéia
obstrutiva do sono é a interrupção da respiração pelo fechamento da passagem do
ar por essas estruturas que pode demorar vários segundos; em alguns casos a
pessoa só volta a respirar quando um reflexo vigoroso do organismo consegue
reabrir a passagem do ar. Esse dorme e acorda pode se repetir até centenas de
vezes numa noite! Durante os eventos de parada respiratória ocorrem arritmias,
picos de hipertensão arterial, refluxo gástrico para o esôfago e parada de
produção de muitos hormônios essenciais.
Esse problema desencadeia dor de cabeça ao acordar,
arritmia cardíaca, dificuldade de concentração, sonolência diurna excessiva,
depressão e sobrecarga cardiovascular. Vários estudos ligam o quadro de morte
súbita ao problema da apnéia obstrutiva do sono. A sonolência diurna excessiva
prejudica o trabalho e oferece riscos para dirigir veículos e para operar
máquinas. O ronco pode ser um fator de desagregação familiar, levando a pessoa
que ronca a dormir em quarto separado, a ser motivo de piadas entre
companheiros de trabalho, de pescarias, acampamentos, ou quando tem que dividir
quarto de hotel.
O
tratamento tem por objetivo corrigir a obstrução das vias aéreas que podem
estar no nariz, na boca, na faringe ou nesses locais simultaneamente. Utiliza-se
aparelhos para auxílio respiratório, como os “CPAP” (Continuous Positive Air
Pressure) ou aparelhos intra-orais que são próteses dentárias com resultados
variados. A cirurgia mais indicada é a uvulopalatofaringoplastia, uma operação nas
partes do palato mole e da faringe, que em nossa experiência, é muito eficaz.
A
obesidade é reconhecida como o principal fator de risco para SAHOS, assumindo
esse papel especial por estar presente em aproximadamente 70% dos pacientes
apnéicos e por ser um fator de risco reversível para SAHOS. Em obesos mórbidos,
a prevalência pode chegar a 80% tanto em homens como em mulheres.
Estima-se que milhões de pessoas são significativamente
prejudicadas pelas seqüelas da SAHOS, com aumento da mortalidade por acidente
vascular cerebral isquêmico, acidente vascular cerebral hemorrágico ou morte
súbita. Apesar disso, muitos casos de SAHOS não são diagnosticados. A obesidade
aumenta de forma expressiva o risco de desenvolvimento de SAHOS, e quanto mais
apnéia a pessoa tem, mais ganha peso.
A SAHOS ocorre em aproximadamente 4% a 9% de homens e em
1% a 2% de mulheres de meia-idade, ocorrência que tem aumentado
consideravelmente nas pessoas magras, em ambos os sexos, sendo os de 40 a 65
anos de idade os mais acometidos. SAHOS está direta e fortemente associada ao
gênero masculino e ao envelhecimento.
Conclui-se que todo tratamento de redução da massa
corporal é importante em pacientes obesos com SAHOS, mas é preciso controlar a
apnéia em todos os casos, tratar a flacidez das vias aéreas altas, seja com
CPAP ou com cirurgias, pois só assim se controla as doenças associadas ao SAHOS
como diabetes, hipertensão, hipotireoidismo e se consegue melhores resultados nos
tratamentos da obesidade.
Parabéns pelo texto!
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