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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

DORMIR MAL ENGORDA?
Pode apostar que sim!

Por Dr. Edson Monteiro


Parece incrível que nos dias atuais ainda haja grande desconhecimento sobre a relação entre o sono e a obesidade, incluindo-se muitos médicos. Muitos acreditam que roncar e ter apnéia (essa apnéia significa parada da respiração durante o sono) seja restrito aos obesos, o que é absolutamente falso. Há quem defenda inclusive que com o aumento do peso há estreitamento das vias aéreas, que a garganta fica mais estreita o que gera o ressonar que conhecemos como ronco, e que a barriga faz dificultar a respiração e é a principal causa da apnéia. Tudo isso realmente faz piorar a respiração, mas são fatores que se somam, ou seja, são coisas coadjuvantes no problema e não determinantes, apenas ajudam a piorar. 
Pensem sobre a indagação que se segue:
“A PESSOA RONCA PORQUE ESTÁ GORDA OU ESTÁ GORDA PORQUE RONCA?”
Soa estranha essa pergunta? Pois o que parece lógico a muitos é o fato de que as pessoas roncam simplesmente porque estão obesas, e têm apnéia porque estão gordas, e até muitos médicos acreditam nisso... isso é falso, não tem respaldo na realidade. Tem muitos magros que roncam bastante e têm apnéia grave, como há gordos sem apnéia e que roncam pouco, ou não roncam.
A obesidade já está tão prevalente em tantos países que já é considerada uma pandemia, que significa dizer ser uma epidemia global, e que está destruindo a saúde de milhões de pessoas. É bem conhecida a relação “consumo de alimentos X gasto de energia”, que se engorda quando há o desequilíbrio nessa equação, que muitas calorias ingeridas na alimentação e pouco gasto com trabalho físico corporal faz aumentar o peso. Há quem acredite que obesidade se resume a comer errado e sedentarismo, o que pode ser apenas parte do problema, pois muitos casos estão mais associados a alterações na eficiência do sono do que aos desvios dos hábitos alimentares. Isso significa o seguinte: Apnéia leva a obesidade, e muitos engordam porque estão com apnéia.
Alterações no sono podem levar a queda de diversos hormônios essenciais ao metabolismo, que quando alterados levam à obesidade, diabetes, hipotireoidismo, doenças cardiovasculares e alterações dos hormônios sexuais com consequente diminuição de libido e até impotência sexual. Durante a insônia e especialmente na apnéia noturna, há aumento do hormônio conhecido como “grelina” que aumenta a fome, o consumo alimentar e diminui a queima de gordura, o que gera obesidade.
A Síndrome da Apnéia-Hipopnéia Obstrutiva do Sono (SAHOS) é uma doença crônica, evolutiva, com graves repercussões para a saúde, causada por flacidez da musculatura da faringe e do palato (o que chamamos comumente de garganta e “céu da boca”), alterações anatômicas da face e dos tecidos moles que circundam a faringe, além de desvios de septo, adenóide e aumento das amígdalas. Essas alterações geram ronco e apnéia, distúrbios do sono que estão relacionados com a passagem do ar pelas vias aéreas do sistema respiratório. Durante o sono, as musculaturas do pescoço e da faringe relaxam causando um estreitamento do espaço aéreo da faringe e o ar passa com maior dificuldade, gera vibração de tecidos moles como palato mole (céu da boca), úvula (campainha), língua e outras estruturas. Este é o ronco! A apnéia obstrutiva do sono é a interrupção da respiração pelo fechamento da passagem do ar por essas estruturas que pode demorar vários segundos; em alguns casos a pessoa só volta a respirar quando um reflexo vigoroso do organismo consegue reabrir a passagem do ar. Esse dorme e acorda pode se repetir até centenas de vezes numa noite! Durante os eventos de parada respiratória ocorrem arritmias, picos de hipertensão arterial, refluxo gástrico para o esôfago e parada de produção de muitos hormônios essenciais.

Esse problema desencadeia dor de cabeça ao acordar, arritmia cardíaca, dificuldade de concentração, sonolência diurna excessiva, depressão e sobrecarga cardiovascular. Vários estudos ligam o quadro de morte súbita ao problema da apnéia obstrutiva do sono. A sonolência diurna excessiva prejudica o trabalho e oferece riscos para dirigir veículos e para operar máquinas. O ronco pode ser um fator de desagregação familiar, levando a pessoa que ronca a dormir em quarto separado, a ser motivo de piadas entre companheiros de trabalho, de pescarias, acampamentos, ou quando tem que dividir quarto de hotel.                                                                                            

O tratamento tem por objetivo corrigir a obstrução das vias aéreas que podem estar no nariz, na boca, na faringe ou nesses locais simultaneamente. Utiliza-se aparelhos para auxílio respiratório, como os “CPAP” (Continuous Positive Air Pressure) ou aparelhos intra-orais que são próteses dentárias com resultados variados. A cirurgia mais indicada é a uvulopalatofaringoplastia, uma operação nas partes do palato mole e da faringe, que em nossa experiência, é muito eficaz.

Apnéia e Obesidade: Qual a Relação? 


A obesidade é reconhecida como o principal fator de risco para SAHOS, assumindo esse papel especial por estar presente em aproximadamente 70% dos pacientes apnéicos e por ser um fator de risco reversível para SAHOS. Em obesos mórbidos, a prevalência pode chegar a 80% tanto em homens como em mulheres.
Estima-se que milhões de pessoas são significativamente prejudicadas pelas seqüelas da SAHOS, com aumento da mortalidade por acidente vascular cerebral isquêmico, acidente vascular cerebral hemorrágico ou morte súbita. Apesar disso, muitos casos de SAHOS não são diagnosticados. A obesidade aumenta de forma expressiva o risco de desenvolvimento de SAHOS, e quanto mais apnéia a pessoa tem, mais ganha peso.

A SAHOS ocorre em aproximadamente 4% a 9% de homens e em 1% a 2% de mulheres de meia-idade, ocorrência que tem aumentado consideravelmente nas pessoas magras, em ambos os sexos, sendo os de 40 a 65 anos de idade os mais acometidos. SAHOS está direta e fortemente associada ao gênero masculino e ao envelhecimento.

Conclui-se que todo tratamento de redução da massa corporal é importante em pacientes obesos com SAHOS, mas é preciso controlar a apnéia em todos os casos, tratar a flacidez das vias aéreas altas, seja com CPAP ou com cirurgias, pois só assim se controla as doenças associadas ao SAHOS como diabetes, hipertensão, hipotireoidismo e se consegue melhores resultados nos tratamentos da obesidade.

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